Ambiente corporativo e liberdade de pensamento
A Declaração Universal dos Direitos Humanos celebra, no dia 14 de julho, o direito à liberdade de pensamento, documentada em seus artigos 18 e 19. Esses dois dispositivos reforçam o direito que todas as pessoas têm de fazer escolhas e afirmam a “liberdade que elas têm para mudar” suas vidas, além do fato de que todas podem manifestar as próprias decisões, afinal “este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”.
O mundo corporativo sempre foi formador de opinião. Muitas das escolhas que as pessoas fazem, inclusive de consumo, métricas de sucesso, entre tantas outras, são criadas e influenciadas pelas comunicações que as empresas produzem e divulgam no mercado.
Atualmente esses valores estão mudando e discute-se o quanto essas comunicações são inclusivas e respeitam as diversidades dos grupos plurais ou, ao contrário, ferem os grupos minorizados e invisibilizados, reforçando estereótipos e padrões excludentes baseados no poder de consumo, que antes era lido como algo centralizado, nas mãos de um grupo seleto e com alto poder aquisitivo.
Recentemente, li um artigo da Shenia Karlsson, uma psicóloga preta, que falava sobre a Síndrome de Sinhá. No texto, a autora discute a descolonização mental da mulher negra frente às macro e microviolências realizadas pela sociedade, principalmente pelas mulheres brancas, que usam um pseudoafeto nas relações para manipular as mulheres negras e garantir, assim, os próprios privilégios.
Imagino que neste momento muitas pessoas vão dar aquela pausa e pensar: “Poxa, Samanta, agora tudo é racismo, até o afeto. Fala sério!”. Porém, explico: temos um marco histórico que exemplifica abertamente essa cultura. Vejamos o início do sufrágio eleitoral, quando apenas as mulheres brancas conquistaram esse direito, criando um movimento separatista que garantiu a posição de privilégio delas à custa dos direitos negados às babás, às cozinheiras, às lavadeiras, entre outras funções exercidas por mulheres latinas, negras, em grande maioria.
Dados atuais sobre a ocupação profissional desses grupos de mulheres podem ser verificados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse sentido, percebe-se que as prestadoras de mão de obra doméstica são majoritariamente negras.
Mas o que isso tem a ver com o mundo corporativo e a liberdade de pensamento?
Vamos olhar isso de perto: quando uma empresa usa a presença que possui na mídia para propagar padrões de comportamento e de estilo sem se preocupar com quais mensagens está criando e sem considerar o quanto gera de espelhamento nas vivências de culturas como a americana, desconectadas do grupo social para o qual vendem, essa instituição acaba reforçando padrões de exclusão, principalmente quando pratica o socialwashing (o marketing disfarçado de filantropia).
Ou seja, ela divulga que promove a igualdade, o respeito e o apoio à diversidade, mas vende produtos tóxicos, prejudiciais ao meio ambiente e à saúde. Há, ainda, casos de organizações que possuem ambientes tóxicos e pouco inclusivos, mas atuam com “cotas” para garantir que a representatividade esteja presente na base operacional.
Quantas empresas realmente fazem investimentos em causas sociais, usando seu lucro? Muitas ações são pagas pelos consumidores através de campanhas com uso de influenciadores, sem que a empresa realmente tire de seu giro de capital o investimento necessário para o desenvolvimento dos territórios mais vulneráveis. Nesse caso, quem está pagando a conta, afinal?
O meio corporativo é um ambiente em que inovações e tendências são criadas e há uma grande responsabilidade sobre os impactos que cada ação pode gerar. Ser uma empresa responsável que fomenta o desenvolvimento sustentável do negócio e do seu entorno é criar um ambiente seguro, onde a liberdade de pensamento é vivenciada, onde se respeite cada indivíduo.
Todas as pessoas são protagonistas, mas nem sempre conseguem protagonizar as próprias escolhas. Assim, é fundamental construir convivências que estejam apoiadas na compreensão do direito individual, ou seja, que valorizem o pensar e o ser diferente, jamais lhes creditando “o peso” de servirem para a discriminação e a exclusão.
Cada microcosmo empresarial pode ajudar a fomentar novos vocabulários, novas propostas de inclusão e novos modos de atuar em grupos, criando regras claras e afirmativas quanto à liberdade de pensamento. Essa reflexão é importante quando falamos de incluir pessoas de grupos que vivem em realidades diferentes porque será necessário criarmos estratégias para tornar o ambiente e os processos adaptáveis. Não se trata de “baixar a régua”, e sim de criar parâmetros do que realmente é fundamental e do que pode ser construído de maneira colaborativa, garantindo um ambiente seguro para esse desenvolvimento.
A liberdade de pensamento serve como motor à inovação, à construção de tendências e à colaboração. Dessa forma, ela é fundamental para garantir que todas as pessoas vivenciem espaços seguros de expressão. Além disso, o mundo corporativo é a universidade da vida. Se investimos um tempo precioso ali, é importante que ele valha a pena.
*Samanta Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, agência de live marketing – uma@nbpress.com
Com mais de 26 anos, a um.a #diversidadecriativa está entre as mais estruturadas agências de live marketing do Brasil, especializada em eventos, incentivos e trade. Entre seus principais clientes, estão a Pearson, o IBGC, o SBT, a ABRH-SP, entre outros. Ao longo de sua história, ganhou mais de 40 “jacarés” do Prêmio Caio, um dos mais importantes da área de eventos.
Informações à imprensa
Tel.: 55 11 94326-8746
E-mail: uma@nbpress.com.br