Sustentabilidade e logística uma nova relação
O aquecimento acelerado do planeta é um fato e a emissão de gases do efeito estufa, principalmente o CO2, é a grande causadora desse aquecimento. As fontes de emissão desses gases são diversas, mas o setor de transportes (incluído o de entregas) tem grande participação nesse cenário. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que os transportes sejam responsáveis por um quarto (25%) do total das emissões globais de gases do efeito estufa. Isso significa que, se quisermos reverter o quadro de aquecimento do planeta, precisaremos mudar não só a maneira como nos transportamos, mas também como fazemos entregas.
O setor de transportes é o único em que as emissões de carbono aumentaram nas últimas décadas. Desde meados de 1970, a quantidade de CO2 lançado na atmosfera mais que dobrou, e os veículos automotores foram responsáveis por 80% desse aumento. Essa informação é alarmante, principalmente se pensarmos que a matriz de transportes brasileira é majoritariamente rodoviarista. Hoje, 52% de toda carga movimentada no Brasil é transportada por veículos rodoviários (carros, caminhões etc.).
Por isso acredito que a primeira grande transformação para reduzir a emissão de CO2 no setor de entregas, principalmente de last mile delivery, seja a racionalização das rotas e dos lotes de entrega. Conseguir operacionalizar maiores lotes de entregas com menos veículos em circulação representa tanto redução na emissão de dióxido de carbono, quanto economia financeira para a empresa.
O segundo grande passo para maior sustentabilidade nas entregas, seria aumentar a eficiência dos veículos e investir no roteamento automatizado. Veículos que utilizam menos combustível, que emitem menos poluentes, ou melhor, que utilizam energias limpas e renováveis, como os carros elétricos, por si só, já representam um grande avanço. Se adicionarmos a isso a possibilidade da criação digitalizada de rotas de entrega mais eficientes e com menor quilometragem, o potencial sustentável ainda aumenta.
Outra questão pouco mencionada, mas que pode ser uma grande aliada, é investir na experiência de entrega totalmente digitalizada, sem a utilização de papel para os processos e recibos. Apesar de o produto final ser biodegradável, a fabricação do papel é altamente poluente. Para se produzir uma tonelada de papel, são lançadas 1,5 toneladas de CO2 na atmosfera e, no fim, quase que invariavelmente, o papel vira resíduo.
A última prática sustentável que gostaria de mencionar, é a ampliação do uso de bicicletas nas entregas. Particularmente, gosto muito dessa solução porque ela é transversal e multidisciplinar. Para ampliarmos o uso de bikes nas entregas, primeiro deve ser possível que elas sejam utilizadas como meio de transporte. E isso depende de uma cidade adaptada, cujo espaço é pensado para o usufruto das pessoas e não apenas dos carros.
O uso das bikes também depende de uma consciência coletiva e de respeito mútuo no trânsito, principalmente com os mais frágeis, no caso as bicicletas. Ademais, é uma prática saudável que reduz a zero a emissão de gases do efeito estufa durante as entregas. Tudo isso contribui para uma cidade mais funcional e acolhedora para as pessoas.
Acredito que, no fim das contas, o segredo está na compreensão de que nossa existência aqui, neste planeta, depende de esforços coletivos. Cada pessoa e empresa precisa fazer sua parte.
*Vinicius Pessin é CEO da Logtech Eu Entrego, startup de entregas colaborativas – e-mail: euentrego@nbpress.com
Criada em 2016, a Eu Entrego é uma plataforma omnienabler que transforma lojas físicas em hubs logísticos e conecta varejistas a uma rede de entregadores autônomos em carros de passeio e bikes elétricas (modais alternativos). Para mais informações, acesse: www.euentrego.com.
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