Alguma vez você se perguntou por que associamos azul claro à limpeza ou verde mais escuro à sustentabilidade? As cores fazem a diferença, e nosso cérebro vai construindo significados para cada uma delas, conforme as percepções que retém em contato com elas.
Quando pequenos, somos esponjas abertas ao mundo, nossos sentidos estão totalmente voltados a captar, explorar e testar, por isso não selecionamos: tudo o que alcançamos levamos à boca, e vamos aprendendo com o tempo que nem tudo nos fará bem, e então começamos a nos frear para evitar dor ou situações desconfortáveis. Esse estranhamento é o mecanismo de autodefesa que nos manteve vivos até os dias de hoje.
Vamos criando padrões mentais que nos ajudam a escolher entre o que é seguro e o que pode nos machucar, fazendo escolhas a partir destas referências. A especialista em neurociência Ines Cozzo, em uma live sobre vieses inconscientes[1], fala sobre o quanto nosso cérebro decide sobre nossas escolhas, nossas emoções e nossas ações, a partir de referências que nem sempre são positivas, mesmo que nos pareçam corretas.
Agora que entendemos esse princípio, o que fazemos com essa consciência?
O cérebro tem a função de nos manter vivos, para isso ele está o tempo todo encontrando formas de poupar desgastes nas peças que nos compõem. Ou seja: tudo o que fazemos ele tenta transformar em padrões, porque economiza energia ao evitar criar novas sinapses, e isso pode ser bem ruim, caso não estejamos conscientes do que escolhemos e do que ele escolhe.
Quando pensamos em identidades, seja de uma pessoa ou de uma marca, sempre associamos às cores. Vamos fazer um jogo rápido: no setor bancário do Brasil, veja que logos vêm a sua mente: o amarelinho, o vermelho, o laranja com azul, o roxo, e por aí vai.
A mesma coisa acontece com as pessoas: nosso cérebro cataloga, define uma sequência de cores que reconhece, e só consegue incluir uma nova cor a partir de novas referências. Uma pessoa nascida em regiões latinas, muitas vezes, irá estranhar a pele e os traços de uma pessoa oriental; assim como uma pessoa nórdica será notada por sua cor de pele, cabelo e provavelmente pela cor dos olhos em regiões indígenas ou povoadas por afrodescendentes, que tendem a ter olhos, peles e cabelos escuros.
Todas essas cores são parte da pluralidade que somos e, quanto mais conhecemos e agregamos, melhor! Então, por que a diferença da cor tem de ser um marcador social que nos separa?
Assim como entre as marcas, a cor de pele das pessoas tem uma identidade social no inconsciente coletivo, construída por anos. O termo interseccionalidade explica que são os marcadores sociais que nos diferenciam, ou seja, enquanto raça – que está atrelada a características fenotípicas como em sermos “hominídeos”[2], todos somos iguais. No entanto, enquanto seres sociais, o que nos difere são nossas etnias, que são um conjunto de marcadores, tais como os fatores culturais, a nacionalidade, a afiliação tribal, a religião, a língua, o CEP em que moramos, a idade, o gênero, a classe social, as tradições, entre outros atributos dos grupos em que convivemos.
Dentro desses modelos que nossa mente constrói a partir de referências, se não convivemos com pessoas diversas, todas que não seguirem os padrões que temos nos parecerão estranhas, talvez assustadoras, ou até mesmo “selvagens”, “exóticas” ou “passíveis de genocídio” porque são diferentes. Um exemplo são algumas culturas que, ainda hoje, deixam crianças que nascem com deficiência abandonadas para morrer, e outras em que pessoas com a pele albina são usadas em sacrifícios por serem “mágicas”[3].
Todos esses modelos são construídos, e a melhor parte desta análise é: eles podem ser desconstruídos e substituídos. Vários estudiosos apontam que podemos mudar o que pensamos. Por exemplo: é possível modificar um hábito. Se você de forma consciente mapear o que faz e que está te trazendo um resultado que deseja mudar, pode escolher pelo que deseja trocá-lo e começar a praticar o novo.
Sem dúvida, não será confortável e vai gerar alguns momentos de cansaço e talvez de ansiedade, mas persista, abra-se para tentar. No livro “O poder do hábito”, o escritor Charles Duhigg faz uma observação sobre como parou de comer rosquinhas e ficou mais magro apenas mapeando o que fazia[4].
Em etapas, ele avaliou os porquês, até descobrir tudo o que fazia, e identificar o que realmente queria, que era conversar com os amigos. O café e a rosquinha eram apenas parte da atividade e não o fim. Ao criar um outro hábito sem os alimentos, atendia à sua necessidade de convivência e retirava o que não precisava e que estava lhe fazendo mal. Então, tudo na vida é uma questão de escolhas. Aí eu te pergunto:
Quando queremos conhecer pessoas que estão empenhadas em melhorar o mundo e a sociedade, vamos a bares ou ONGs?
Quando queremos conhecer novas culturas, aprender coisas novas para sermos mais conscientes de como podemos fazer a nossa parte para melhorar a sociedade, continuamos fazendo sempre as mesmas coisas? Isso irá mudar algo?
Quando tiramos um tempo e/ou parte do que recebemos por nosso trabalho e ajudamos a pintar um local que abriga pessoas vulneráveis, estamos investindo em qual tipo de capital? Investindo em qual tipo de sociedade?
Essas perguntas não teriam fim, mas vou fechar este artigo deixando outras perguntas para você: quando entendemos que, sendo omissos quanto às situações dolorosas a nossa volta – muitas promovidas pelo marcador social da cor de pele –, estamos todos de alguma forma permitindo que os ciclos de opressão e violência continuem a existir? Por conta de sermos pessoas diferentes, a cor da pele faz a diferença?
*Samanta Lopes é coordenadora MDI da um.a #DiversidadeCriativa, agência de live marketing – uma@nbpress.com
Com mais de 26 anos, a um.a #diversidadeCriativa está entre as mais estruturadas agências de live marketing do Brasil, especializada em eventos, incentivos e trade. Entre seus principais clientes estão Pearson, IBGC, SBT, ABRH-SP, dentre outros. Ao longo de sua história, ganhou mais de 40 “jacarés” do Prêmio Caio, um dos mais importantes da área de eventos.
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